A obra machadiana mais comentada da nossa literatura – Dom Casmurro – abrange muitos aspectos a serem analisados e não apenas a dúvida crucial do personagem Bentinho.
Publicado em 1889, Dom Casmurro é considerado um romance singular, atemporal e ainda muito indicado para concursos.
Resumo da obra Dom Casmurro
A narrativa se inicia com todos os acontecimentos já ocorridos. O narrador (Bento Gonçalves – D. Casmurro), já um homem de idade, explica o porquê do título e a razão de escrever o livro. Percebe-se que é um homem de coração machucado e traído e que sofre com as lembranças do passado.
A narrativa se desenrola em 1857, no Engenho Novo (RJ), na Rua de Matacavalos.
A história relata o caso amoroso entre Bento e Capitolina (Capitu), sua vizinha. Antes de se casarem em 1865, Bentinho estudava no seminário por uma promessa de sua mãe, porém escolheu a vida fora da Igreja e formou-se em Direito.
Após anos sem ter filhos, Capitu e Bento tiveram um menino que recebeu o mesmo nome do seu melhor amigo, na época do seminário, Ezequiel Escobar.
Enquanto o menino crescia, Bentinho via traços do seu velho amigo em seu filho. Tempos depois, seu amigo Escobar morre afogado. No dia do enterro, Bentinho nota que Capitu estava mais triste e comovida que a própria viúva, Sancha. Cego de ciúme, começou a deixar transparecer suas dúvidas a Capitu.
Em 1872, Bento e Capitu se separaram.
Passados muitos anos, Capitu veio a falecer. Ezequiel, depois de certo tempo, resolve visitar o pai que ainda o achava fruto do amor entre seu amigo e Capitu. Alguns meses depois, numa viagem científica, Ezequiel morre de febre tifóide em Jerusalém.
Sua mãe vem a falecer e Bento resolve construir uma réplica da casa onde morou na infância, na Rua de Matacavalos.
Ao final da obra, quase que menosprezando a história narrada, Dom Casmurro cita a ideia de escrever sobre outro assunto: A história dos subúrbios.
Aspectos históricos
Na obra, Machado de Assis não se prende a relatar detalhes quanto aos costumes da sociedade da época. Não se preocupou em mencionar fatos patrióticos ou coisas do gênero. Fala de alguns costumes como mães fazerem promessas envolvendo seus filhos para ingressarem no sacerdócio, por exemplo. Mas nada além que possa compará-lo às obras de outros autores da época. O romance foi ambientado no Rio de Janeiro, no Segundo Reinado (século XIX).
Alguns aspectos da narrativa
Dom Casmurro apresenta tanto aspectos cronológicos (datas exatas) quanto psicológicos (referente aos pensamentos do personagem). O foco narrativo é de 1a pessoa do singular (narrador-personagem).
O que mais impressiona em Dom Casmurro é a forma como ele narra e apresenta os personagens, as ações, as dúvidas, os pensamentos de cada participante da história. Machado de Assis nos envolve de tal forma que deixa para nós, pobres mortais, a tarefa de compreender e “julgar” as atitudes de cada personagem. É como se o leitor passasse a fazer parte da narrativa, de ter opiniões a respeito de certos comportamentos dos personagens.
Dom Casmurro – outros olhares
A singularidade na escrita de Machado de Assis em Dom Casmurro impressiona muitos e há muito tempo. Não é à toa que é um romance estudado por muitos outros escritores estrangeiros e brasileiros. Amor de Capitu, de Fernando Sabino, é uma dessas obras que enaltece a machadiana.
O adultério
Eis a questão que muitos julgam de importância máxima de Dom Casmurro: Capitu traiu ou não Bentinho? Escobar realmente teve um filho com Capitu? Verdade seja dita: a suposta traição é muito bem enredada para deixar o leitor com essa dúvida, mas em nenhum momento houve vestígios de traição, nada configurou provas ou pistas de um adultério. O que o leitor imagina que possa ser um sinal de tal fato, não configura nada mais que os pensamentos do enciumado Bentinho. Contudo, são tão bem narrados os fatos, Machado mexe tanto com o psicológico do leitor, que alguns juram que houve traição com certeza.
Essa é a beleza do romance: a trama que Machado faz e que nos deixa intrigados. Não importa quantas vezes você leia o romance, sempre terá algo a descobrir na próxima leitura e novamente haverá outros questionamentos e suposições.
A questão da traição, a meu ver, é secundária diante da maestria e do estilo único do escritor. Não é o fato de Capitu ter traído ou não, mas como Machado desenvolveu a trama e como envolve o leitor nesse mundo de dúvidas e suposições.
Mesmo assim, é importante ressaltar que o adultério é um tema muito comum em romances realistas.
O Primo Basílio, de Eça de Queirós, trata também desse tema, embora a infidelidade seja verídica na obra. A traição de fato aconteceu.
Dom Casmurro no cinema e na TV
Além da obra de Fernando Sabino já dito anteriormente, há também: filmes, óperas, canções, peças teatrais e outros livros adaptados de Dom Casmurro.