Eis as famosas figuras de linguagem tão mencionadas na arte de transmitir uma mensagem com maior expressividade em qualquer momento de nossas vidas, seja em uma conversa informal, nos quadrinhos, nas letras das músicas, em charges, propagandas etc.
Ao se usar a forma conotativa das palavras, as figuras de linguagem são o carro-chefe para isso. Reveja o nosso artigo sobre denotação e conotação clicando aqui.
Figuras de linguagem – grupos distintos
Existem mais de 30 figuras de linguagem, subdivididas em quatro grupos: de palavras, de pensamento, de som e de sintaxe. Vamos conhecer a maioria delas, ok?
Figuras de palavras
As figuras de palavras (ou tropos) são aquelas que mudam o significado real para o figurado (conotativo). As figuras de linguagem deste grupo são: comparação, metáfora, catacrese, metonímia, antonomásia, perífrase e sinestesia.
1. Comparação
Observe a imagem abaixo:
Ao se dizer: “A flor do antúrio é como um pedacinho de paz”, estamos empregando a comparação . É como se quiséssemos estabelecer semelhanças entre dois campos: paz e flor. Assim como o branco simboliza paz, a flor branca do antúrio também carrega esse mesmo sentido de pureza.
Veja outros exemplos:
O vento acariciava o meu rosto tal qual uma seda.
“A notícia cai na minha sala como uma pedra atirada através da vidraça ou da tela da televisão: estilhaços de paz rompida, de alienação violentada.” (Lya Luft)
As crianças cheiram à liberdade assim como os pássaros que voam.
Para estabelecer a ideia de comparação, normalmente se emprega algum elemento de ligação entre os termos: como, assim…como, tal…como, tal…qual etc.
2. Metáfora:
Consiste também em fazer uma associação entre os termos, mas sem o elemento conectivo. A ideia é traçar semelhanças de alguma forma.
Em “Há nuvens escuras pairando sobre a cabeça daquele jovem”, podemos associar “escuras” a tempestades; sobre a cabeça do jovem significa uma situação ruim, desagradável.
“Ser jovem é permanecer descobrindo.” (Artur da Távola)
3. Catacrese
Essa figura de linguagem se caracteriza por utilizarmos termos na falta de um mais apropriado. Veja:
Em “Quebrei o pé da mesa” , não encontramos um termo específico para essa parte do móvel. Usamos por uma questão de associação, fora do seu uso denotativo.
Veja outros:
A cabeça do alfinete está gasta.
Embarcarei no avião às 10 h.
As costas da cadeira me causam dores.
4. Metonímia
Consiste em substituir um termo pelo outro devido ao valor de seu significado, por uma proximidade lógica e não por semelhança entre os termos. Podemos citar alguns: a parte pelo todo, o autor pela obra, o lugar pelo produto etc.
Exemplos:
Aquelas pessoas não tem um teto para morar. (teto: casa)
Ela sempre gostou de ler Ariano Suassuna. (autor: obra)
Meu avô só fumava Havana. (lugar: produto)
5. Antonomásia / Perífrase
É a substituição de um nome por outro que o identifique por alguma característica marcante, de forma fácil e clara. A antonomásia refere-se a nome de pessoas somente; a perífrase refere-se a conceitos, objetos e animais. Exemplos:
No desenho, o rei dos animais morre depois de uma dura luta. (leão)
O rei do futebol nos deixou há anos. (Pelé)
Sua falta de coragem nos prejudicou. (covardia)
6. Sinestesia
É a figura que faz o cruzamento de sensações (tato, audição, olfato, paladar e tato).
O perfume das cores deixava seu rosto radiante.
O doce olhar da criança iluminava sua alma.
Ela só usava cores berrantes.
Figuras de pensamento
Leia a frase no balão abaixo.
Para expressar uma ideia diferente da habitual, o rapaz colocou séculos de espera e não o número de horas/minutos. Houve, portanto, um exagero na ideia.
As figuras de pensamento trabalham na substituição de termos habituais por outras ideias. São elas: antítese, paradoxo, ironia, eufemismo, prosopopeia e gradação.
1. Antítese
Tal figura se caracteriza por dizer palavras de sentido contrário.
“Quem ama o feio, bonito lhe parece.”
“A dor era intensa e o seu rosto estava suave.”
“Os homens não melhoram,
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heroicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
(Carlos Drummond de Andrade)
2. Paradoxo (ou oxímoro)
O paradoxo também estabelece uma oposição de ideias, porém de forma contraditória, de forma que uma ideia exclui a outra.
Seu rosto feio lhe parecia lindo, muitas vezes.
“Marmelada de banana
Bananada de goiaba
Goiabada de marmelo” (Gilberto Gil)
“O amor …é ferida que dói e não se sente…” ( Luís de Camões)
3. Ironia
Caracteriza-se por expressar o contrário do que se quer dizer. Muitas vezes ela fica aparente dentro de um contexto. É uma figura bastante utilizada em charges e cartuns.
“Moça linda e bem tratada,
três séculos de família,
burra como uma porta:
um amor.” (Mário de Andrade)
4. Eufemismo
É a figura que traz uma amenização de palavras no lugar de ideias de sentido desagradável, triste.
Como exemplo, a notícia publicada na revista Veja em maio de 1998:
Os olhos azuis se vão
Frank Sinatra, o maior cantor popular do século, morre aos 82 anos de ataque cardíaco.
Aqui o eufemismo foi usado na manchete para se amenizar a ideia de morte.
Vale lembrar que é muito comum se usar mais de uma figura de linguagem em uma mesma mensagem. Na notícia acima, houve o emprego de metonímia e de antonomásia.
Mais exemplos:
Eles têm uma característica em comum: pouco dotados de inteligência.
Faltar com a verdade só piora a situação. (mentir)
5. Prosopopeia (ou personificação)
Consiste em atribuir características humanas a seres inanimados ou irracionais.
“A Comadre Raposa, apesar de mesquinha, tinha lá seus momentos de delicadeza. Num dos tais, convidou a cegonha, vizinha, a partilhar de sua mesa.” (La Fontaine)
Da sacada, os gerânios conversavam com as rosas do jardim.
6. Gradação
E essa figura de linguagem apresenta uma enumeração de características de forma crescente (clímax) ou decrescente (anticlímax).
Exemplos:
Com o pesar no coração, ele via o lago, o mar, o oceano … mas tudo ia se afastando aos poucos do alcance de seus olhos.
A vida daquele homem era um grão de areia, uma partícula de pó, um nada!
7. Hipérbole
Consiste em passar uma ideia exagerada para dar mais ênfase.
Exemplos:
“Há séculos que estou esperando ser chamado.” (Na verdade, o rapaz passou algum tempo esperando , mas não séculos).
“Ela morreu de tanto rir.” (Ela chorou muito, mas não morreu por isso).
“A jovem chorou baldes d’água.” (Por mais que ela tenha chorado, não deu para encher baldes com as lágrimas.)
Figuras de som
As figuras de som são aquelas que trabalham com a sonoridade das palavras, que explora os sons ao pronunciá-las. São elas: aliteração, assonância, paronomásia e prosopopeia.
1. Aliteração
É a figura que apresenta uma repetição das mesmas consoantes.
“O rato roeu a roupa do rei de Roma.”
“Quem com ferro fere com ferro será ferido.
“Vim, vi e venci!” (proferida por Julio Cesar)
2. Assonância
É a repetição dos mesmos sons das vogais.
Ana canta, dança, fala, acalma a alma.
“Sou um mulato nato no sentido lato.”
3. Paranomásia
É a repetição de palavras com sons parecidos.
“Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs.” (Almir Sater e Renato Teixeira)
4. Onomatopeia
É a figura de linguagem que tenta reproduzir um som determinado: de chuva, batida, vento, conversa, estouro etc.
Veja outros exemplos:
“ – Nossa! Não aguento mais o seu blá, blá,blá, o seu ti-ti-ti!”
Vrum, vrum, vrum…acelerava o carro em plena madrugada.
Figuras de sintaxe (ou de construção)
As figuras de linguagem, deste último grupo, referem-se à estruturação de uma oração. São elas: repetição, anástrofe, elipse, zeugma, silepse, pleonasmo, polissíndeto, anacoluto hipérbato, anáfora e assíndeto.
1. Repetição (ou iteração)
Consiste na repetição das mesmas palavras.
“Bate forte, bate leve, bate vento, bate sol!”
2. Anástrofe
É a inversão da ordem direta das frases.
Desciam do carro, de forma preocupada e sinistra, muitos policiais armados. (o sujeito está depois do predicado)
3. Elipse
Consiste na omissão de um termo sem prejuízo semântico. Muito comum é a elipse do sujeito.
“Vim, vi e venci.” (Eu vim, eu vi e eu venci)
4. Zeugma
É uma figura que omite um termo que já tinha sido anteriormente expresso.
“Nem ele entende a nós, nem nós a ele.” (Camões)
5. Silepse
É a figura de linguagem que não segue as regras de concordância, pois esta é feita de acordo com a ideia que se quer transmitir. Existem três tipos;
a) de gênero: Vossa Excelência está preocupado?
O pronome de tratamento é feminino, mas, por se tratar de uma pessoa do sexo masculino, o adjetivo concorda com ele.
b) de pessoa: “A gente somos inútil” (Ultraje a rigor)
Gente é da 3ª pessoa e somos, verbo que está na 1ª pessoa do plural.
c) de número: “A gente somos inútil”(Ultraje a rigor)
Gente está no singular e somos está no plural.
6. Pleonasmo
Consiste em uma redundância de sentido literário.
A mim, não me parece que seja uma ideia segura.
“E rir meu riso derramar meu pranto” (Vinicius de Moraes)
7. Polissíndeto (poli= muitos; síndeto= conjunção):
Consiste no emprego repetitivo de conectivos coordenativos:
E chegou, e lanchou, e bebeu e foi dormir.
8. Anacoluto
Consiste numa quebra de sequência nos termos da oração.
Inveja, não acredito em tal sentimento!
9. Hipérbato (inversão, anástrofe ou sínquise):
Trata-se de uma inversão dos termos da oração:
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante
Na ordem direta: As margens plácidas do Ipiranga ouviram um brado retumbante de um povo heroico.
10. Anáfora
Consiste na repetição das palavras no início dos versos.
E tudo era céu
E tudo era verde
E tudo era sonho.
11. Assíndeto
É o contrário do polissíndeto (a= falta; síndeto= conjunção).
Quando recebeu seu primeiro salário, aos 12 anos, foi à padaria e comprou: docinhos, pães, bolos, sonhos. ( …bolos e sonhos.)
E esse foi nosso artigo sobre figuras de linguagem. São muitas, não? Acredito que as explicações aqui presentes podem ajudar você de alguma forma.
Muitas figuras, não? Acredito que as figuras de linguagem aqui presentes podem ajudar você de alguma forma.
Obrigada por passar um tempo conosco e até a próxima.
Referências
- TERRA, Ernani. Curso Prático de Gramática. São Paulo: Scipione, 2011.
- FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar Gramática. São Paulo: FTD, 2014.
- MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Saraiva, 2007.
- PIMENTEL, Ernani. Intelecção e Interpretação de textos. Brasília: Vestcon, 2011.
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Autor: Ernani Teixeira
Autor: Mauro Ferreira
Gramática básica
Autor: Domingos Paschoal Cegalla