O Perigo da Ambiguidade

Ambiguidade: informação com mais de uma interpretação. 

Olá! Você já tentou se expressar de uma forma e alguém entendeu outra completamente diferente? Ou estruturou um texto que causou dúvida no leitor? Se a sua resposta foi sim, talvez tenha feito uso da ambiguidade. 

Vamos ver como tudo isso funciona? Mas antes de começar, leia a frase abaixo:

“Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe do fazendeiro era também o pai do bezerro.” 

Achou confuso? Quem não acharia, não é mesmo? A pontuação (ou falta) acarretou um tipo de ambiguidade: a sintática. O importante não é classificar qual tipo de ambiguidade se refere, mas compreender que o texto está mal redigido e, portanto, acarretará estranheza para o leitor. Vamos pontuar para desfazer a dúvida?

Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe (vaca); do fazendeiro era, também, o pai do bezerro (touro).

Ambiguidade – o que é?

A ambiguidade (ou anfibologia), em uma linguagem simples e direta, configura-se em uma informação dada que possui mais de um sentido e, portanto, pode gerar interpretações diferentes. 

Há passagens em textos que são, propositadamente, redigidos com duplo sentido, dependendo do enfoque que se queira dar. Na poesia, inúmeras vezes, a ambiguidade vale como um recurso estilístico para deixar o texto mais interessante para o leitor; vale também para propagandas, anúncios, piadas etc. É importante saber que, quando existe o duplo sentido, não é necessariamente um vício de linguagem.

Por outro lado, se a ideia não for de provocar dupla interpretação, seu texto corre o risco de passar uma informação que você não deseja, ou pior, uma mensagem errônea e provocar dúvidas e dificuldade na comunicação. 

Além disso, a ambiguidade revela descuido e falta de qualidade do texto. Quando a mensagem não tem o objetivo de duplicidade de informação, a gramática normativa caracteriza a ambiguidade como vício de linguagem, inapropriada para a norma padrão da língua.

Leia, também:

Tipos de ambiguidade

A ambiguidade, de acordo com o tipo de construção, pode ser dividida em quatro tipos:

  1. Semântica: ocorre devido a uma falta de contextualização ou uso inadequado da linguagem.
  2. Pragmática: A ambiguidade pode acontecer de acordo com diferenças sócio-culturais ou por falta de contexto.
  3. Lexical: a mais comum das ambiguidades. Ocorre ao se usar palavras que possuem mais de um significado.
  4. Sintática: Muitas vezes, ao se pontuar de forma inadequada uma frase ou construir textos mal estruturados,  a ambiguidade se faz presente.

Indiferente do tipo de ambiguidade, a regra é uma só: construir textos diretos, bem pontuados e com clareza. Essa é a chave! 

Em muitas das minhas aulas de produção de texto, pedia que cada aluno trocasse seus textos com o de outros colegas para se certificar de que a informação estava clara, sem riscos de má interpretação. Está aí um exercício que você pode fazer, quando possível: pedir para alguém ler os seus textos para saber se está tudo certo. Visualizamos muito melhor quando o texto não é nosso.

Vamos ver alguns exemplos de passagens com ambiguidade e analisar cada uma.

Texto 1

Para muitos pode parecer óbvio que o creme não tem rachaduras, mas sim a pele. Contudo, seria mais adequado se o texto fosse assim: “Lançamento: novo creme com ureia para rachaduras.”

Por mais claro que seja para uns, pode não ser para todos. Em uma  mensagem a ser passada ao público, todos os detalhes são importantes.


Texto 2

A ambiguidade pode gerar um duplo sentido. Em propagandas, é comum utilizarem este recurso.

Na propaganda acima, a ambiguidade foi o recurso utilizado para evidenciar o duplo sentido. Você pode entender que é o fim da picada existir a dengue (fazendo uso da expressão popular) e/ou que não haverá mais picadas do mosquito porque as pessoas vão evitar ambientes propícios para o surgimento do inseto. Dessa forma, as pessoas deixarão de ficar doentes. Portanto, a ambiguidade aqui vale como um recurso para deixar a mensagem atraente para quem lê a propaganda.


Texto 3

Naquela loja, apesar de existir uma enorme variedade de acessórios para a temporada, não havia capa para chuva feminina.

O adjetivo “feminina” refere-se à capa e não à chuva. Tal interpretação seria absurda, inclusive. No entanto, é preferível redigir: “não havia capa feminina para chuva.”


Texto 4

Prefira alimentos que informam que não têm colesterol no rótulo.

Rótulo com colesterol? Não, mas a ordem dos termos provoca tal ideia. Melhor seria: “Prefira alimentos que informam no rótulo que não têm colesterol.”


Texto 5

MOTORISTA QUE NÃO OBEDECE À SINALIZAÇÃO

PODE SE PERDER NA ESTRADA PARA SEMPRE.

O texto acima faz parte de uma campanha promovida pelo Ministério dos Transportes e que fez uso da ambiguidade de forma proposital.

 O trecho “para sempre” pode ser interpretado de duas formas: o motorista pode se perder na estrada e não saber para onde ir;  ou ele ficará para sempre na estrada por ter perdido a vida devido ao desrespeito à sinalização.


Texto 6

“O protagonista deste romance diz que não quer casar no primeiro capítulo, mas concorda em fazê-lo no quarto.”

Aqui, a ambiguidade pode ser proposital ou não, dependendo do contexto. De qualquer forma, para se evitar a ambiguidade, melhor seria: 

O protagonista deste romance diz que não quer casar no primeiro capítulo, mas concorda em fazê-lo no quarto capítulo.


Texto 7

Antes de deixar  a fazenda, observei atentamente o  porco do seu irmão.

Expressões desta natureza acarretam interpretações pouco elegantes, não? Pode-se  melhorar dizendo “Antes de deixar a fazenda, observei atentamente o porco que pertence ao seu irmão.” Desta forma, não há o perigo do autor da frase ser mal interpretado.


Texto 8

Da janela, observava a menina com o binóculo.

Na frase acima, há dúvida sobre quem estava com o binóculo: a menina ou quem a observava.

Melhor seria: Com o binóculo, eu observava a menina da janela. 

Ou: Da janela, eu observava a menina que usava binóculo.

De qualquer forma, a ideia é desfazer a ambiguidade, deixar o texto o mais claro possível.


Texto 9

A moça viu o incêndio da lanchonete em que trabalhava.

Há duas possibilidades de interpretação da frase acima:

  1. A lanchonete em que a moça trabalhava estava em chamas.
  2. Da lanchonete em que trabalhava, a moça viu o incêndio de outro estabelecimento.

Texto 10

Mantenha a atenção. Segure o cabo com força.

Com a imagem acima, fica fácil identificar a que cabo o emissor se refere, certo? Contudo, se não houvesse a imagem, haveria outras interpretações possíveis? Sim. Veja as possibilidades:

  1. Poderia estar se referindo a um cabo de panela ou outra extremidade de um objeto qualquer;
  2. Cabo é também uma patente militar;
  3. Já ouviu falar sobre a brincadeira de “cabo de guerra”?

Por mais que a mensagem seja simples, pode ocorrer dúvidas.


Texto 11 

A prefeitura só irá liberar a verba para a pintura dos bancos no mês de março.

Acima, pode-se interpretar que o termo “bancos” refere-se à pintura dos bancos(assentos) de uma praça, por exemplo; assim como fazer referência a agências bancárias.

Como eliminar a dúvida?

  1. Se for referente aos assentos: A prefeitura só irá liberar a verba para a pintura dos bancos da praça no mês de março.
  1. Se for referente às agências, é só escrever a informação completa: A prefeitura só irá liberar a verba para a pintura das agências bancárias no mês de março.

Seja na forma escrita ou oral, a ambiguidade passa despercebido por muitas pessoas.  Então, para não cair nesse erro, é sempre bom e necessário lermos nossas informações várias vezes e vale a dica dada anteriormente: se for possível, dê seu texto para outros lerem. Geralmente dá certo!


Espero ter ajudado você a esclarecer suas dúvidas.

Deixe seu comentário, caso queira, e até a próxima. 


Bibliografia

  1. FERREIRA, Mauro . Aprender e praticar Gramática. São Paulo: FTD, 2014. 
  2. MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Saraiva, 2007.   
  3. TERRA, Ernani. Curso Prático de Gramática. São Paulo: Scipione, 2016. 
  4. Ambiguidade: aprenda o que é, tipos e como identificar. Quero Bolsa, 2023. Disponível em <https://querobolsa.com.br/enem/portugues/ambiguidade>. Acesso em 03 fev. 2025.

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