Venha ver o pôr do sol e outros contos – Resenha crítica. 

A obra Venha ver o pôr do sol e outros contos, de Lygia Fagundes Telles, é integrante  da coleção Lygia Fagundes Telles, lançada pela Editora Ática, na 20.ed. em 2007, São Paulo. Além dos contos, a obra traz, entre outros,  biografia, entrevista e bibliografia da escritora. O livro consta de 103 páginas e um suplemento de leitura (Guia do Professor). Os contos são em total de 8 e, cada um, possui uma atmosfera diferente e   independente um do outro.

A história se desenrola durante uma travessia de uma margem à outra do rio em que algumas pessoas esperam para desembarcar, mas cada uma carregando seus conflitos, seus medos, fugindo da realidade. A travessia era inquietante: “Não quero nem devo lembrar aqui por que me encontrava naquela barca. Só sei que tudo era silêncio e treva.” Narrado em 1ª pessoa, a personagem mostra sua indiferença, mas observa os quatro passageiros da embarcação. No decorrer do conto, tristezas e surpresas em relação a um dos ocupantes em especial: a de uma mulher que carregava uma criança enrolada em panos. Com final inesperado, a narradora deixa a embarcação, ao fim da travessia, diferente de quando iniciou a viagem.

Conto que intitula o livro, talvez seja um dos que mais surpreendem o leitor ao final. A história conta o fim de um namoro entre Raquel e Ricardo. Para ter um último momento para uma despedida, Ricardo pede a Raquel um breve passeio em um local tranquilo, onde pudessem ter uma conversa a sós, sem os olhos curiosos dos outros. O local? “ – Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou apontando as crianças rodando na sua ciranda.” Contando uma triste história de família, mas mentirosa, para enganar a ex-namorada, Ricardo sai do cemitério, sozinho. “Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.” E a Raquel?

Venha ver o pôr do sol, um dos contos de Lygia Fagundes Telles, é surpreendente.
Foto de Pixabay

 O  início da história revela o desejo de duas jovens estudantes de conseguir uma pensão com um preço acessível. Depois de alojadas no quarto, ficam intrigadas com um caixotinho contendo ossos de um anão. “Mas que maravilha, é raro à beça esqueleto de anão. E tão limpo, olha aí – admirou-se ela.”

O esqueleto havia sido deixado pelo inquilino anterior, que também era estudante de medicina, como uma das meninas. Segundo a dona da pensão, o esqueleto era de um anão adulto.

No entanto, todas as noites, acontecia algo inexplicável com o aparecimento de muitas formigas. A tentativa de matar as formigas todas as vezes que apareciam era em vão. Na noite seguinte, as pequenas retornavam e entravam na caixa. Porém, a função das formigas era tão inacreditável e assustadora que fizeram as duas estudantes saírem correndo no meio da noite. “No céu, as últimas estrelas já empalideciam. Quando encarei a casa, só a janela vazada nos via, o outro era penumbra.”

História bem comovente a de Biruta, o sexto conto da obra. Narra a história de um menino órfão que vê no Biruta, um cachorro vira-lata, seu único amigo. Entretanto, a dona da casa não vê com o mesmo ponto de vista. Além de tratar o menino Alonso como um serviçal, renega as afeições que ele tem pelo cão.

Na noite de Natal, a patroa leva o cachorro com uma desculpa de emprestá-lo a um menino doente só por uma noite. Mas seria a última vez que o Alonso veria seu amigo.

Biruta, o sexto conto da obra "Venha ver o pôr do sol e outros contos", de Lygia Fagundes Telles, narra a história de um menino órfão que vê no Biruta, um cachorro vira-lata, seu único amigo.
Foto de Alex Hrek


O último conto da obra, O menino, retrata a história de um filho que coloca sua mãe em um pedestal, como se fosse uma rainha, uma mãe e esposa dedicada. Em uma determinada tarde, a mãe vai com o filho assistir a um filme no cinema. Tamanha era a ansiedade do menino em conseguir um lugar perfeito para ver o filme ao lado da mãe, que não percebeu outras pessoas muito perto de seus assentos. Ao final do conto, o filho vê o pai, já em casa, com uma cara que parecia ter visto uma assombração.

Fechou os olhos para prender as lágrimas. Envolveu o pai num apertado abraço.” Assim termina o conto com uma dúvida no ar: o fato ocorrido no cinema será revelado ou não? Que fato entristecera tanto o menino?

A obra Venha ver o pôr do sol e outros contos é uma leitura obrigatória para quem aprecia suspense. A forma como a autora descreve a trama de cada conto deixa-nos curiosos, com medo e com vontade de saber o que virá pela frente. Lygia Fagundes Telles narra as emoções humanas de forma envolvente. Não tem como não se emocionar, não tem como não refletir sobre determinadas posturas e atitudes de certos personagens.

Há inúmeros aspectos a se considerar em torno das obras: medo, mistério, vingança, fé, amor, culpa, egoísmo e adultério. Narrados de forma singular, os contos merecem todo o respeito, pois poderiam acontecer com qualquer um e coloca o leitor numa posição delicada, além de mexer com o nosso psicológico. Não há como não se perguntar o que faríamos no lugar de alguns personagens, no caso de tia Pombinha, em O jardim selvagem.  Ou, se preferir, o que fazer diante da amnésia em O noivo?

Para responder a essas perguntas, apenas vivendo na pele dos personagens criados pela aclamada escritora paulistana Lygia Fagundes Telles em Venha ver o pôr do sol e outros contos.


E você? Já leu essa obra? Gosta dos contos da Lygia Fagundes Telles? Compartilhe conosco, nos comentários, suas impressões. E, se tiver alguma sugestão para novas resenhas, não se esqueça de mencionar. Até a próxima!

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